Saúde Mental Integral


DEPRESSÃO



Ø Depressão é uma condição muito comum. 

Suas características principais são humor triste com pensamentos pessimistas, desesperança e ruína e/ou a perda do interesse nas atividades que antes tinha prazer.

Por exemplo, uma dona de casa que antes tinha grande satisfação em cozinhar e ir à igreja pode sentir-se sem interesse alegando que essas atividades já não lhe agradam tanto como antes ou mesmo atribuir a não realização devido a cansaço ou sonolência excessiva).

Em resumo, as alterações NUCLEARES são humor triste e/ou perda do interesse em atividades antes prazerosas POR MAIS DE DUAS SEMANAS. 

Essas alterações vêm acompanhadas de insonia (dificuldade para pegar no sono - demora por exemplo duas horas para pegar no sono / Podendo também a pessoa acordar várias vezes durante a noite ou mesmo acordar muito antes do que seu habitual. Então se antes despertava às 7h da manhã passa a fazê-lo às 5:30h por exemplo). Alterações do apetite para mais ou menos , podendo a pessoa emagrecer ou engordar desde o início da condição, redução do interesse sexual (redução da libido), lapsos/esquecimentos frequentes, desatenção, isolamento social (preferindo ficar mais em casa em um padrão diferente do seu usual).

As pessoas com depressão têm alterações na percepção das coisas e passam a ter uma visão muito negativa de si mesmas e do mundo, sentimentos de culpa e incapacidade de se concentrar e tomar decisões.

São frequentes as distorções cognitivas como generalização excessiva (a partir de uma experiência mal sucedida a pessoa passa a antecipar-se negativamente achando que tudo o que fizer será mal sucedido também), abstração seletiva (mesmo com eventos positivos a pessoa foca-se no negativo, então se venceu um concurso, mas se obteve 70% de aprovação, foca-se nos 30% que não votaram nela), responsabilidade excessiva (sentindo-se responsável por tudo de ruim  que acontece a ele ou às pessoas ao seu redor), suposição de causalidade temporal (se foi verdadeiro no passado, então será sempre verdadeiro e a pessoa pode dizer por exemplo que se o marido traiu-a e divorciou-se dela certamente um próximo relacionamento será traída e o mesmo a deixará), autoreferências excessivas (sentindo que todos estão atentos às suas besteiras), catastrofizar (sempre pensar o pior e ter certeza de que o pior acontecerá) , pensamento dicotômico (ver tudo em um extremo ou em outro não considerando o meio termo. Por exemplo, quando alguém mente para mim uma vez eu nunca mais posso confiar nela, nunca mais).

 Muitos desses casos acabam melhorando depois de uns meses ou podem piorar prejudicando relacionamentos íntimos e trabalho.

O não tratamento dos casos pode implicar em novos episodios mais graves ou de mais dificil resposta aos medicamentos para depressão.

 O importante é caracterizar que a pessoa antes não era daquela forma sendo antes mais otimista e extrovertida e a partir geralmente de um estressor (podendo ele não existir) passa a apresentar essas características. Isso diferencia uma pessoa com depressão daquela com personalidade depressiva que desde a infância, adolescência, vida adulta tem pensamentos pessimistas e é mais isolada e sem energia.

Personalidade depressiva não é o mesmo que algúem com episódio depressivo.

A depressão quanto à gravidade pode ser classificada conforme o quadro abaixo

Gravidade

Características

Tratamento

Leve

Poucos sintomas e funcionamento interpessoal e no trabalho praticamente inalterado.

Psicoterapia e pratica de exercícios físicos pode ser suficiente.

Moderada

Sintomas mais numerosos e prejuízos parciais nos relacionamentos com presenteismo e faltas frequentes no trabalho.

Psicoterapia

Iniciar o quanto antes medicação antidepressiva

Grave sem sintomas psicóticos

Todos os sintomas estão presentes e existe importante comprometimento funcional.

Tratamento com antidepressivos.

Internação quando há planejamento suicida por exemplo.

Grave com sintomas psicóticos

Síndrome depressiva seguida do surgimento de delírios (certezas  irremovíveis e absurdas) ou alucinações (fenômenos de sensopercepção em que a pessoa ouve vozes ou vê imagens que as demais pessoas não veem ou tem outras alterações das sensações/percepções)

Antidepressivos em doses altas + antipsicoticos

Ø Na forma mais grave a pessoa pode passar a ter planos de autoextermínio.

Ø Frequentemente pessoas deprimidas também têm sintomas físicos diversos como dores difusas, dor de cabeça, dor lombar, dor menstrual indo a vários especialistas (neurologistas, ortopedistas, reumatologistas, ginecologistas ect) e frequentemente esses não encontram patologia física nesses sistemas afetados. 

Ø Alguns casos evoluem para estágios graves em que a pessoa pode ter prejuízos da percepção da realidade sentindo-se só ainda que acompanhada, acreditando-se não amada e notada ainda que seus familiares dediquem atenção e carinho. Uma minoria pode escutar vozes sem que haja ninguém falando e geralmente o conteúdo é depreciativo ou acusatório de culpa ou mando suicida. Casos mais raros ocorrem em que a pessoa recusa-se a comer ou mesmo falar ficando imóvel por muito tempo.

Ø SEMPRE PERGUNTE A PESSOAS DEPRIMIDAS SOBRE:

1. IDÉIAS OU MESMO PLANOS DE MORTE: A pessoa pensa constantemente em autoagredir-se /matar-se?

Muitas pessoas acham que perguntar sobre pensamentos suicidas pode induzir ao ato, MAS ISSO NÃO É VERDADE. Perguntar sobre idéias de suicídio é um compromisso com a vida e diante dessas idéias você deve ajudar /acompanhar a um psiquiatra com urgência.

2. CONSUMO EXAGERADO DE TRANQUILIZANTES PARA DORMIR OU AUMENTO DO CONSUMO DE ÁLCOOL OU OUTRAS SUBSTÂNCIAS

Pessoas frequentemente adiam e subestimam a necessidade de buscar um psiquiatra para tratamento e acabam por buscar medicamentos ou mesmo álcool para insônia e substâncias ilícitas como cocaína e outros estimulantes para obterem mais ânimo /energia. Isso é perigoso e prejudicial e deve ser tratado para não evoluir para dependência química associada à depressão.

TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

  • Dá-se com antidepressivos.
  • Existem várias categorias de antidepressivos e nenhum é superior aos demais. 
  • A opção do tratamento é influenciada pela gravidade, apresentação dos sintomas, presença de co-morbidades clínicas e preferência da pessoa. Então a escolha do medicamento se baseia em alguns fatores:

1.       Perfil de efeitos colaterais, segurança e tolerabilidade.

2.       Resposta anterior individual e de membros de família.

3.       Preferência do paciente.

4.       Evidências disponíveis.

5.       Custo do tratamento.

6.       Apresentação clínica dos sintomas depressivos.

No início do tratamento a pessoa deve tomar a medicação todos os dias só interrompendo o tratamento se apresentar efeitos colaterais muito intoleráveis/incapacitantes uma vez que os antidepressivos não tem ação rápida e só poderá ser avaliado o fracasso desse medicamento depois do período de um mês e meio de uso regular.

Se não houver pelo menos uma melhora moderada deve ser avaliada adesão (uso correto do medicamento).

Havendo alguma resposta a dose deve ser aumentada, visto que o objetivo do tratamento é que a pessoa melhore ao máximo e idealmente retome o seu grau de funcionamento anterior recuperando humor bem como dos outros sintomas. A regularização do sono costuma ser o ultimo sintoma da depressão a desaparecer e muitas vezes a depressão incorretamente tratada resulta em insonia crônica e uso crônico de remédios para dormir como benzodiazepínicos.

Após a recuperação o tratamento deve ser mantido para prevenir recaídas/recorrências e para a maioria dos pacientes isso significa manter o tratamento por aproximadamente um ano. Nos casos de pessoas com depressão recorrente ou com um primeiro episódio de depressão psicótica ou em que houve planejamento suicida não se recomenda a interrupção do tratamento que deve continuar por toda a vida do sujeito naquela dose que o deixou assintomático.

Alguns Antidepressivos: Fluoxetina, Sertralina, Paroxetina, Citalopram, Escitalopram, Trazodona, Bupropiona, Venlafaxina, Mirtazapina, Duloxetina, Amitriptilina, Nortriptilina, Clomipramina dentre outros.